terça-feira, 30 de agosto de 2011

Carta enviada ao Valter Hugo Mãe


Leitores amigos, a carta abaixo enviei hoje, dia 30 de agosto, pelo e-mail que achei fuçando na internet. Tomara que chegue até ele. Mas de qualquer forma, sinto-me honrada em fazer propaganda desse livro que é simplesmente maravilhoso e apaixonante.



Querido Valter Hugo Mãe,

Desculpe-me o abuso de chamá-lo querido quando sequer me conhece, mas é que eu o sinto assim tão perto agora, após a leitura de “A máquina de fazer espanhóis” que não posso usar termos como prezado ou estimado, parece algo distante e você (mais uma ousadia, permita-me por favor) definitivamente me aproximou dos mais velhos, me aproximou de mim mesma em um futuro médio, me reaproximou dos meus velhos de uma forma gostosa e natural que não julgava possível.

Não sei como você fez para, ainda assim, jovem, passar uma vivência própria da terceira idade, a isto responde a genialidade da sua obra. Não me importa sabê-lo, só quero mesmo poder sentir esse aprendizado de respeito que respiramos nas suas páginas. Também não tive um pai que chegou à terceira fase, mas tenho uma mãe que lá está, tive duas avós que chegaram à quarta e tenho alguns tios em caminho adiantado. Entendo mais da dignidade nessa etapa agora, graças a você. Obrigada.

Tenho uma ideia mais clara do que é o medo, a humilhação, a solidão não escolhida, o aproximar do fim a cada dia e as releituras críticas de um caminho traçado ao longo dos anos, por vezes marcado pela prepotência e arrogância dos áureos tempos. Sei um pouco mais das possibilidades que podemos ainda vislumbrar, a importância da amizade, do riso bobo, das brincadeiras e até do amor. No meio do fim, ainda o começo de algumas alegrias.

Ah se toda a humanidade pudesse ler seu livro e sentir um pouco a dor de perder um grande amor, a dor de ver partir um amigo após o outro, a dor de ter que abdicar de sua autonomia, de ser obrigado a cumprir sentenças proferidas por seu corpo, mesmo quando seu cérebro podia e queria mais. E ainda suportar a ignorância dos filhos que, não sabendo como agir, escolhem formas duras de mostrar que a vontade perdeu seu dono. É frustrante, broxante, triste, amargo, humilhante, como o paralelo que fez com Portugal, mas mesmo assim ainda bonito, digno e feliz, aqui e acolá, como talvez fosse na Espanha. Obrigada novamente, por permitir-me uma compreensão e, a partir dela, a possibilidade de agir de outra forma.

Li seu livro devagar, saboreei as palavras, economizei nas páginas para que se demorasse o fim, numa combinação inimaginada, mas inequívoca: a comparação com a alegoria descrita.

Um abraço muito afetuoso e minha eterna admiração,

Rita Magnago

P.S: Faço parte do Clube de Leitura Icaraí (http://clubedeleituraicarai.blogspot.com/) e seu livro foi o vencedor da votação para o mês de outubro, quando o debateremos, na livraria da Universidade Federal Fluminense, em Niterói.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A nossa parte e a parte do Estado


Chegamos ao cúmulo de ver profissionais da saúde prendendo agulhas, teoricamente infectadas com o vírus do HIV, em seu muro para tentar proteger-se, à sua família e à sua casa, de roubos. Após 8º assalto, morador coloca armadilha usando ratoeira e arma de fogo para matar ladrão em sua próxima investida, o que de fato aconteceu. E o resultado? Nossa polícia investiga e processa esses cidadãos acuados, desesperados e fartos de tanta negligência.

Será que ninguém se questiona sobre os motivos, sobre a falta de segurança, esse direito do cidadão que o estado deveria, mas não promove? Que providências se tomam nesse sentido? Apenas punir aquele que tem uma iniciativa em defesa própria? Assim não se resolve o problema. Precisamos que o Estado desempenhe seu papel ou isso vira de vez uma Casa da Mãe Joana onde é cada um por si.

Em tempo: Apóio o Ato contra a Corrupção programado para o dia 20 de setembro, na Cinelândia. Estarei lá. Esse país tem que mudar e nós devemos fazer a nossa parte.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Que tal ser humano?


Ah, os japoneses, de novo eles! Confesso meu amor por esse povo que demonstra o que é ser humano com tanta simplicidade e pouca propaganda. Se vocês não tiveram a oportunidade de ler a coluna da Martha Medeiros de domingo passado, recomendo vivamente (escaneei para vocês). Ela conta que 200 profissionais aposentados, engenheiros em maioria, se prontificaram a trabalhar nas usinas de Fukushima em lugar dos que foram chamados pelo governo, cientes de que, em um prazo aproximado de 20 anos, contrairão câncer. Fizeram as contas expectativa de vida x morte por câncer e decidiram que não tinha porque deixar os mais jovens perderem anos de sua existência.

A equação é simples, a decisão e o espírito de coletividade que a norteiam não. Fica mais um lindo exemplo desse povo que, apesar de sofrer as piores mazelas naturais, não só não esmorecem nem se vitimizam, como agem rápida, eficiente e organizadamente, além de serem criativos em suas propostas e demonstrar enorme respeito ao próximo. Enquanto isso, aqui:

  • quando passo pela Alameda e vejo a agora terminada obra que durou desde as chuvas de abril passado (posso me enganar no mês, mas seguramente tem mais de um ano)...
  • quando minhas filhas leem diariamente a placa da prefeitura de Maricá anunciando há meses uma obra de reconstrução de uma ponte que não começa nunca...
  • quando vejo no jornal a fúria de Núbia Cozzolino para com a população de Magé, esfolada até não poder mais...
  • quando penso nos prefeitos de Teresópolis e Friburgo e no desvio das verbas públicas para reconstrução das cidades...
  • quando recebo dossiês retratando muito, muito mais que as viagens de Cabral com helicópteros e jatinhos de empresários fornecedores de serviços e produtos...
Enfim, quando me deparo com todos os péssimos exemplos que a administração pública nos dá, sem esquecer dos inúmeros de nós que ratificam a “Lei de Gerson” no dia a dia e não estão nem aí para os demais cidadãos, ah os japoneses, que faltam que me fazem. Saionará.